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sábado, 5 de julho de 2008

SOBRE O MACHISMO

Detesto quando me pego sendo machista. É tão chato! Tão limitado! Esses dias me peguei pensando seriamente que precisava de uma mulher, uma esposa. Alguém que limpasse a casa, que nunca deixasse a louça suja em cima da pia, que levasse um lanche apetitoso no meu quarto enquanto eu tento escrever. Uma mulher que mantivesse a área de serviço limpa, o banheiro sempre lavado, a cozinha organizada e o fogão brilhando. Eu visualizava facilmente essa mulher, minha mãe! Caralho, ela definitivamente faz falta. Passei a considerar meu pai um homem sortudo por ter, em casa, uma mulher exemplar do tipo que ainda conserta roupa. Mas essa já tinha dono, era preciso encontrar outra. Nessa busca percebi que o tipo de mulher que eu queria não precisava ser minha esposa, uma empregada doméstica seria muito melhor. E foi aqui que o “bicho pegou”. Comecei a elaborar mentalmente justificativas para esse querer. E foi terrível, porque eu tinha que questionar algo que eu queria muito, acreditem, era muito importante naquele momento ter paz pra pensar, e ter paz significava ter minha casa arrumada.
Na tentativa de classificação, minha memória historiográfica me fez perceber que eu buscava uma escrava, e, embora eu me recusasse a acreditar nisso, a classificação ia ganhando forma e peso, até que chegou num momento em que parei. Permitir tal pensamento seria o mesmo que admitir que minha mãe, além de empregada doméstica havia sido escrava a vida toda. Meu pai, por sua vez, de sortudo virou carrasco. Não! Ele apenas gosta de que as coisas estejam de uma determinada forma, com poucas possibilidades de alteração. Ela apenas separou muito bem os papéis que ambos, ele e minha mãe, deveriam representar – ele é provedor, e ela é mantenedora. Ficou até bonito, né!? Mas não era tão simples assim, havia nesse meio muitas coisas ainda por aceitar. Afinal, eu não sou como meu pai, logo, não posso pensar como ele.
Mas a verdade é que quando Elis cantava ela tinha razão: “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Será que não era mais seguro, mais fácil daquele jeito, tudo “certo”? (mesmo sabendo que a definição desse conceito, depende). Ao menos ele sabia o que tinha que fazer. Trabalhar, casar, ter filhos, educá-los. No meio disso tudo, com os netos, vieram mais alegria, mais orgulho, e claro, novas preocupações. Novos planos são feitos, afinal, as coisas não saíram exatamente como eles pensavam.
O problema é que eu acho que pulei uma parte desse processo. Sem casar, sem ter filhos fui direto para as preocupações porque as coisas não saíram exatamente como eu planejei.
Pensando sobre o assunto, pude identificar os momentos de cada encruzilhada, aqueles momentos decisivos... entre quatro possibilidades, a necessidade de escolher uma. Percebi que sempre que cheguei numa dessa, fui eu quem escolhi por qual seguir. Meu pai sempre se posicionava como observador, dando palpites e impondo sua presença, no intuito de manter vivo na memória o exemplo que ele representava, ou seja, em qualquer situação, o “caboclo tem que ter saco pra assumir o que faz” - ele dizia.
Então, se alguém tinha que ser culpado, esse alguém era eu, já que EU tinha escolhido uma vida “moderninha”. Aí as coisas fluíram... arrumei trinta e sete justificativas para cada situação, culpados (as) para todas, e tudo não passava de contos, crônicas e declarações de amor. Mais os dois primeiros, do que o último, mas no fim das contas tudo valia. Um amigo me disse outro dia que, envelhecer é a perda da capacidade de adaptação ao ambiente. Nesse sentido, acho que envelheci um pouco. Mas esse é um papo para outro dia...

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