Balaio de Gatos

Hoje minha identidade nacional foi questionada. Sinto vergonha dos senadores do meu país. Escrevo senadores com letra minúscula porque não me sinto na obrigação de respeitá-los mais. Diante do que foi posto pela imprensa, argumento.

Dos quarenta distintos cidadãos que votaram contra a cassação de Renan Calheiros me envergonho por serem tão despudorados, covardes e desleais, aliás, leais até demais, com qualquer outra coisa menos com o povo brasileiro. Dos seis que se abstiveram, me envergonho de saber que eles ocupam um cargo público, representativo, e que foram eleitos por pessoas que confiaram neles no mínimo a defesa de alguns dos princípios mais lembrados ao longo das sessões plenárias como a honra, a ética e a moral. E eles? Eles nada fizeram, se eximiram de qualquer opinião. Poderiam ao menos fazer do ócio, algo criativo, e já que tudo ia acabar em pizza, servirem a mesma, em forma de aperitivo, seria bem mais fácil digerir, embora a vontade fosse de vomitar. Dos trinta e seis que votaram a favor, não me envergonho tanto, afinal fizeram o que deveria ser feito. Mas, também são responsáveis por outro ato tão vergonhoso quanto o voto contra: a votação secreta. Nossos legisladores cometeram um crime. Um crime contra a História, como bem lembrou Cristóvão Buarque. O que eles temem? Até onde meu raciocínio histórico me permite observar essas sessões secretas aconteciam em determinados regimes monárquicos nos quais os legisladores temiam retaliações do monarca. E que história é essa dos relatores do processo serem os responsáveis pelo texto que explicará ao povo brasileiro o que aconteceu lá dentro? Está errado. A memória é seletiva e o poder corrompe. Nós tínhamos que ter visto, nem que fosse pela televisão. Temos o direito de fazer nosso próprio julgamento, de saber quem está defendendo quem, caso contrário continuamos certos ao generalizar todos os políticos e taxá-los de corruptos. E fica difícil defender alguém. Ontem era o presidente, hoje o Senado, parece que virou rotina.

E para nós, por enquanto, pérolas, como a dos porcos. Ou pão, enquanto o circo pega fogo e tudo acaba numa singela brincadeira. Dói pensar que muita gente ainda passa fome, e que fome tem preço, pois em situação de sobrevivência a moral é facilmente negociada, e que votos serão arrematados numa política clientelista, e possivelmente muitos desses homens continuarão no poder. Dói perguntar: será que ainda tem jeito? E ter que acreditar que sim. Mas ainda prefiro. Prefiro acreditar que mesmo com fome, com dor e com raiva, nosso povo há de responder. Isso se não calarem a boca da imprensa.