Pesquisar este blog

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

MOTTA, Márcia Maria Menendes. A Primeira Grande Guerra. In: FILHO, Daniel Aarão Reis. O Século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

A Primeira Grande Guerra Mundial é sem dúvida o resultado do confronto de rivalidades entre quatro principais potências mundiais: França, Inglaterra, Alemanha e Rússia. Apesar dos diferentes estágios de industrialização, esses países sofreram ao mesmo tempo os efeitos do avanço do capitalismo industrial desencadeado no território europeu a partir da segunda metade do século XVII e todo o século XIX. A expansão imperialista desses países obtém como resultado a guerra.

Isto posto devemos considerar o nível de industrialização de cada país. Na Inglaterra, a Revolução Industrial havia modernizado as máquinas a vapor e a indústria têxtil, modernização que transformou profundamente a sociedade inglesa. O fechamento dos campos fez com que a população migrasse para as cidades em busca de empregos, aumentando o número de mão-de-obra disponível. O consolidado mercado interno inglês, acelera o crescimento econômico, na medida em que as cidades estavam aptas a receber esses migrantes para trabalhar na indústria. No que se refere ao mercado externo, a Inglaterra era considerada a “senhora dos mares”, com uma relação ultramarina de dominação econômica de outros povos, em função das guerras de colonização travadas anteriormente. Nesse sentido, a Inglaterra foi vítima de seu próprio pioneirismo. Outras potências econômicas tornavam-se concorrentes de maneira rápida, pois não precisaram passar por todos os processos de desenvolvimento até atingirem o mesmo nível de industrialização da Grã-Bretanha, desse modo esses países podiam “pular etapas” desse desenvolvimento atingindo o ápice nessa concorrência por mercados de consumo para seus produtos.

A Alemanha em menos de uma geração tornou-se um país unificado e forte, e desenvolveu um planejamento cuidadoso para modernizar-se. Formou cartéis, favoreceu conglomerados econômicos, e investiu na educação. Em pouco tempo, a Alemanha tinha um alto número de mão-de-obra especializada cientifica e tecnologicamente deixando para trás o atraso.

A França, outra potência, embora com a maior parte de sua população no campo, possuía algumas indústrias, mas que só atendiam uma pequena parcela da população que vivia nas cidades, além do que a concorrência com a gigante Inglaterra desestimulava qualquer investimento em nível de maior produção de produtos industrializados. Considerando isso, a França opta por investir na qualidade dos seus produtos, aproveitando-se da idéia propagada mundialmente de que, a cultura francesa era sinônimo de beleza e bom gosto. Com capital inglês a França construiu estradas de ferro, consolidou seu mercado nacional e investiu em locais mais favoráveis.

A Rússia, por sua vez, não possuía uma força industrial, visto que cerca de 79% da população vivia no campo, e apresentava-se como um país de grandes contrastes, coexistindo com indústrias modernas, e sociedades agrárias miseráveis. Fato é que a Rússia era o país mais populoso da Europa, com um Estado autoritário e militarizado, cuja industrialização dependia necessariamente do investimento estrangeiro, obrigando o Estado a atuar como mediador entre o capital internacional e a indústria.

A descoberta de novas formas de energia, de novos medicamentos e de novas tecnologias fortalecia o sentimento de que o ser humano era bastante capaz de inventar, aludindo a uma Belle Époche, carregada de otimismo e estabilidade duradoura. Todos os esforços dos países envolvidos pareciam recriar velhas rivalidades, e a deflagração de uma guerra entre qualquer uma dessas potências era algo possível. E nesse cenário o nacionalismo desses países tornou-se exacerbado. O serviço militar passou a ser obrigatório, recrutando jovens para as forças armadas. O resultado social disso era bastante visível, pois desse modo o exército influenciava na política e na sociedade de seus países. Soma-se a isso a construção e generalização de um conjunto de tradições que visavam fortalecer esse mesmo nacionalismo. Sendo assim cada Estado era ciente de seu papel na política mundial, e a rivalidade com relação a outras potências industrializadas aumentava a medida em que cada sociedade acreditava na sua superioridade com relação à história e política mundial.

Há que se considerar ainda, os conflitos já existentes, como por exemplo, a rivalidade entre França e Alemanha, após sua unificação em 1871, na guerra Franco-Prussiana, e a anexação da região da Alsácia e da Lorena. Tanto quanto, a disputa da mesma França, com a Inglaterra pelo Marrocos, em terras africanas.

O assassinato do príncipe herdeiro do trono Áustro-Húngaro desencadeou, como em efeito dominó, conflitos pelo território europeu. Novas alianças foram feitas, e colocaram-se de um lado, França, Inglaterra e Rússia, e de outro, a Alemanha e a Áustria-Hungria. Com frentes de batalha para o ocidente e o oriente, a Alemanha iniciou sua ofensiva pela Bélgica, desafiando a Inglaterra e a França, e depois teve que se ocupar com a Áustria e a Rússia.

Apesar da esperança de todos de que os conflitos durassem pouco, a guerra mostrou-se mais violenta do que o esperado, e as perdas humanas representavam o fim do sonho de um mundo de paz. A quantidade de soldados mortos, e a violência dos conflitos, principalmente nas trincheiras, enfatizavam a crueldade dos massacres, bem como suas técnicas. Foi exatamente nesse período que as “tecnologias para a morte”, ou seja, o desenvolvimento da indústria bélica contribuiu para todo esse processo.

Após anos de violência, era necessário, portanto, acordos de paz, a fim de colocar um basta naquela situação. Nesse sentido, antes do fim da guerra a Rússia já havia se retirado, e teve que dar conta das disputas internas surgidas com a Revolução de 1917, fato que obrigou Leon Trotsky a negociar com inimigos, no sentido de não anexação de territórios. Após inúmeros acontecimentos, dentre eles as reinvestidas alemãs, a Rússia se vê obrigada a aceitar o Tratado de Brest-Litovsk, que sem dúvida nenhuma, a deixara humilhada. Depois disso, o presidente norte-americano Wilson, apresentou no congresso americano um plano de paz mundial, que ia da abolição da diplomacia secreta, ou seja, serviços de espionagens, a criação de uma sociedade, um tipo de Liga das Nações.

Considerado por ingleses e franceses insuficientes para resolver os conflitos, os 14 pontos de Wilson, não reconheciam necessariamente os esforços desses países no conflito, bem como não garantiam que a Alemanha não voltaria a atacar seus rivais. Contudo, após esse episódio, reuniram-se em Paris, aos dezenove dias do mês de janeiro, representantes dos governos norte-americano, francês e inglês que discutiram os termos de uma paz imposta, e não negociada, sem a participação dos derrotados, e anunciaram o mundo o resultado: o Tratado de Versalhes. A Alemanha principal atingida pelo Tratado, foi obrigada a pagar altas indenizações, a devolver territórios anexados, e a se não acabar, ao menos diminuir sua potencialidade bélica, a custas de retaliações das outras potências.

Apesar de finalizada, a Primeira Grande Guerra Mundial ainda foi capaz de prolongar seus efeitos colaterais. A geografia européia havia sido alterada, a devastação econômica dos países envolvidos era visível, e os empréstimos norte-americanos, faziam com que a inflação aumentasse nesses países, tornando a fome e a miséria as únicas coisas realmente transversais a seus povos. O desemprego aumentou, os ex-combatentes retornaram a suas casas, e encontraram suas nações dilaceradas. O otimismo deu lugar ao pessimismo, o sonho ao pesadelo, e a rivalidade entre esses países não acabara, deixando claro que uma Segunda Grande Guerra Mundial ainda aconteceria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário